Amortecedor (amor-tece-dor)
Você me pede uma chance como se pedisse para eu te passar a
manteiga na mesa de café da manhã, me pede uma chance como se me pedisse pra ir
ao mercado no domingo, como quem pede um favor trivial qualquer meramente por
tédio ou incontentamento, mas no fundo eu sei que você coloca toda sua
esperança ao me pedir. Você me propõe que eu fique um pouco mais quando eu já
decidi ir embora, quando eu já fiz minhas malas, quando eu já encontrei outro
caminho diferente do que você quis traçar pra mim. Você me cede um lugar e abre
mão uns poucos passos, retrocede um pensamento, ameaça a minha solidão, torna-me vilã da sua história e requere que eu amenize um pouco a dor que eu
causei e as que eu não causei também.
E eu te dou, eu te dou uma chance como quem faz uma
promessa, como quem acredita em papai noel, como quem sonha com o coelhinho
da páscoa. Eu te dou uma chance como quem aceita assinar um contrato em branco
sabendo das grandes chances dos termos serem violados. Eu te dou uma chance em
parte por que meu coração não tem escolha, em parte por que eu preciso dessa
chance também. Eu preciso do seu sorriso de café da manhã, eu preciso de uma
brincadeira sobre o quanto eu sou desastrada, eu preciso de um abraço forte que
me mostre que as coisas ainda tem conserto. Eu me recuso a acreditar que isso é
uma causa perdida, eu me recuso a deixar você ser uma causa perdida, eu me
recuso a ser sua causa perdida...
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