Manifesto ao choro
Desculpa a falta de jeito, desculpa se não achei graça da piada da noite, nem me juntei ao coro de risos que atravessou a cidade brilhando néon, não combinando com meu pijama cinza.
Perdão se me resguardei o direito de abrir uma ou duas garrafas de vinho sozinha e derramei uma lágrima ou duas (talvez um pouco mais). E sim, foi por uma pessoa específica.
Foi por mim, pelo meu direito de ser triste quando estou triste, meu direito de ser mau humorada, meu direito de fechar a cara, de odiar quem me fere, de me recusar a continuar ser ferida.
Foi por mim, pela minha estrutura nervosa que cedeu a emoção de uma junção de momentos que me derrubaram como num efeito dominó. Foi pelo tempo que eu sei que vou precisar gastar pra por tudo de volta no lugar, pela percepção de que algumas peças se quebraram e eu vou ter que conviver com elas assim ou jogar fora e conviver com o espaço vazio.
A percepção de que algumas coisas você precisa engolir se não elas engolem você.
A percepção da dor alheia que parece mais vívida quando também se tem algo que curar, consigo entender melhor o ódio alheio quando odeio, julgo menos os atos dos desesperados quando me desespero. Entendo melhor a dor do outro quando me dói ou já doeu o mesmo lugar também.
A percepção da dor alheia que parece mais vívida quando também se tem algo que curar, consigo entender melhor o ódio alheio quando odeio, julgo menos os atos dos desesperados quando me desespero. Entendo melhor a dor do outro quando me dói ou já doeu o mesmo lugar também.
Uma pessoa feliz não pode ajudar alguém triste, a alegria nos faz egoístas em nossa própria felicidade, só uma dor pode realmente ajudar a outra, por se espelharem refletem a mesmo tom, e mesmo eu que não entendo de matemática sei que - com + é igual a - , também sei que - com - é igual a +.
E o choro vem por motivo nenhum ou por todos os motivos e precisa ser sentido, vivido e respeitado. Não questionado nem menosprezado, ele "(o choro) é livre".
Foi o sonho do garoto que se viu impossibilitado pelo próprio corpo de usar o tão sonhado uniforme e noite ou outra procura outro sentido nos seus passos. Foi a mãe que culpou os amigos por não conseguir ver a malícia nos olhos daquele(a) que ela mesma gerou. Foi a namorada que odiou ferrenhamente a outra, por não conseguir odiar a quem tanto ama. Foi a filha que culpou a si mesma pra justificar as loucuras da mãe, pra perdoar. Foi a amiga que se ressentiu pela intromissão não sincera daquela que só queria saber dos detalhes sórdidos pra espalhar. Foi o sonho de entrar para aquele curso adiado. Foi o emprego não conquistado. Foi a perda de alguém que lhe era caro. Foi o preço alto a se pagar pra se ter o que quer...
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