Nota de rodapé
O jornal da noite mostrou uma matéria
no mínimo irônica hoje, estava dando dicas do que a pessoa deveria fazer caso
seu caiaque virasse no meio de uma correnteza muito forte com pedras, etc. As
opções eram sair do caiaque e lutar pra nadar até a margem, se amarrar a uma
corda de alguém que ofereceu ajuda ou ficar quieto em posição fetal esperando o
próprio rio seguir seu curso e te levar parar águas mais calmas passíveis de
nado.
Segundo os telespectadores que
votaram no que seria a melhor opção, segundo eles a opção que traria mais
chances de sobrevivência seria se enrolar numa corda oferecida por alguém, mas
segundo os atletas acostumados com o esporte e os especialistas em afogamentos
a melhor opção seria se manter em posição fetal e deixar a correnteza te
atingir e te levar para águas mais calmas.
Isso me fez rir da nossa própria natureza
humana e como reagimos às situações, eu ri porque são poucas as pessoas que tem
essa resiliência de aceitar a má sorte e se deixar doer, aceitar o momento ali
sozinho no fundo da água enquanto a correnteza te joga contra as pedras,
enquanto a água quase toma conta dos pulmões. Quem não tenta sair nadando
implorando por ar se batendo em todas as direções? Quem não pega as cordas e
tenta se enrolar até perceber que isso só está atrapalhando mais ainda?
Eu estou lá no fundo, depois de
tentar me debater e engolir muita água, depois de perder pros meus próprios demônios, depois de me enforcar com a corda que
parecia ser a salvação. Estou deixando a água me levar, estou apanhando da
correnteza, estou sentindo a dor de não saber nadar e mesmo assim ter me
aventurado, estou começando a sentir a anestesia da água fria enquanto espero a calmaria, ela vai chegar, o jornal disse que o
rio tende a levar seus dejetos a lugares mais amenos se a gente segurar o ar e
ir devagar com as correntes que não temos força pra quebrar...
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